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Palestrante e Conferencista

Membro titular da UBE, ABRAMES, ANLA, ACCLARJ, SOBRAMES, LISAME, UMEAL, EÇA DE QUEIROZ, FORTE DE COPACABANA, CENTRO LITERÁRIO GIBRAN KHALIL GIBRAN

Presidente da Academia Cearense de Ciências, Letras e Artes do RJ





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Médico Psiquiatra e escritor.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Deixa o sol entrar

                             * Essa mensagem foi lida na abertura do evento Música e Inclusão com crianças e jovens com algum tipo de deficiência intelectual, visual, síndrome de down, cadeirante e outros na UNIUBE em Uberlândia no mês de dezembro de 2010 - depois que todos ouviram, iniciou-se uma apresentação belíssima onde mostraram seu poder de superação tocando violão, teclado, percurssão e cantaram. Obrigada, Luiz Gondim por ceder esse poema para a abertura do evento.
                                                                                                                                                                                                                                                                                    
 deixa o sol entrar 
 liberta a noite
aprecia o desabrochar da flor
escuta o canto do pássaro
veste a grandeza do crepúsculo
bebe o licor do orvalho
escolhe o caminho sem olhar para trás
leva dentro de ti a figura amada
sorri quando te ofenderem 
         mas chora quando tiveres vontade
se puderes desata o nó sem cortá-lo

confia no música, pois ela é quem te move!                     







Eles são deuses

                                                                                                                                             SONHADOR


A obra-prima jamais será escrita,
o manjar dos deuses não será provado,
o amor_ escravizador dos desejos
dos pobres mortais, permanecerá incógnito.
O homem recebeu a capacidade de amar,
mas ignora, por completo,
sua origem,
essência,
real dimensão...
Apenas ama e se expõe,
pois amar não é bastante,
é ilusão de instante,
de força e poder tão frágeis.
Agora é noite,
noite de lua cheia.
Fico imaginando lá longe,
no OLIMPO, os deuses se amando,
completamente,
perdidamente,
irreversivelmente...
Mas eles podem,
eles conseguem,
 ELES SÃO DEUSES!...


Em algum lugar do passado


                                                                                                    ZÍNGARO

Em algum lugar do passado

não sei onde,
ignoro quando,
mas me vejo empunhando
o pincel da sensibilidade
e projetando nas telas suaves sonhos
que têm o sabor da verdade.

Em algum lugar do passado
vou recolhendo minhas andanças
intactas, relíquias de criança
e as guardo num cantinho
onde repouso, sempre sozinho.

Em algum lugar do passado
vibra em mim a mágica melodia
e sinto a vertigem de um dia
em que fui importante para alguém.
Sem palavra, sem pergunta,
na voragem que atrai e junta
e ignora se a viagem segue além.

Em algum lugar do passado
nossos caminhos cruzaram,
nossas mãos se tocaram
e o céu chegou para perto.
Em algum lugar do passado
o instante virou eternidade
e hoje me afogo na saudade,
na distância, neste agora tão incerto.

Entre véus

                                     

Ao  penetrar órbita alheia

seus limites ficaram esmaecidos;
quarto minguante buscando lua cheia
detonou vulcões adormecidos.

Ao fazer a aproximação
assumiu lânguida postura;
alma, cérebro e coração
unidos em tangente que perdura.

Valências são trocadas
buscando equilíbrio da equação;
metades, por fim, defrontadas
entre véus caídos ao chão.

Agora, nada os detém:
impulsos, instintos, emoções;
ele avança, ela também,
libertos de todos os grilhões.

Incógnitas noturnas

                                                                       

Não existe acaso,
semelhança assusta, 
segurar emoção quanto custa.
Minha insônia se distraiu,
cochilou, dormiu e se permitiu sonhar.
Rasgou nuvens,
véus descobriu,
desnudou estrelas,
em loucuras se exauriu.
Mas, agora, regressa
falando de alguém de forma expressa,
às incógnitas da noite me conduz.
Deliro sim, talvez esteja louco,
mas preciso de tão pouco:
evoco teu sorriso, banho-me em tua luz.

Entre peles macias

                                                  
      Ensina-me a viver,
pois sozinho não consigo.
Tanto tempo sem te ver,
tristes vôos nas asas do castigo.
A incrível arte da sedução
em olhares e não olhares,
em suspiros, palpitações,
em navegar outros mares
mantendo o leme na mão.
Diálogo entre peles macias
exacerbando a emoção,
aquecendo noites frias
ouvindo um samba canção.
Galopes num crescendo
entre roupas pelo chão.
Lá fora, está amanhecendo,
nós ao abrigo da exaustão.
Corpos em simbiose
apagaram a solidão,
tombaram véus da neurose,
ela não volta mais não.

Devaneio

                                                                          
Eu não sou mito,
sou realidade.
O que está escrito não se apaga.
A nossa verdade cresce dentro de você,
que mesmo sem saber porque,
fecha os olhos,
tapa os ouvidos
e me volta as costas.
Sentindo um medo  terrível
dos seus instintos em rebelião,
na mais justa das revoltas
de quem vê o sol,
mas não se aquece;
de quem descobre a fonte,
mas a garganta permanece seca;
de quem vislumbra o paraíso,
mas não lhe dão passagem;
de quem embarca sempre,
mas nunca completa a viagem.

Existencial

Da morte em vida,
que é tão freqüente;
e a vida na morte
que mexe com a gente;
da morte aparente,
sutil, sem anúncio,
que não se pressente.
E tantos que vivem
em angústia pensando
na morte que vem num repente.
Covarde ou valente
aquele que busca
a morte de frente?
Valente ou covarde
quem, sem alarde,
não teme a morte
e resiste ao corte
de viver novamente?

Gangorra

O homem não suporta,
por muito tempo,
a alegria suprema
e a tristeza mais profunda.
Ele tem limites que não permitem
ir muito além,
nem ficar muito aquém.

A vida é uma gangorra,
sobe,desce,
avança, recua,
por vezes se estabiliza,
nem antes, nem depois,
na hora precisa.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Jantar de formatura

                                                                                           CORINGA    
                       
Os fatos aqui narrados tiveram seu início em fins de 1939.
Comemoravam os médicos sua formatura e os componentes da turma já sentiam saudades antes mesmo da separação. Fizeram então um pacto: o de se reunirem anualmente para um jantar.
Até aí, nenhuma novidade, mas algumas condições foram estabelecidas:
1) Aqueles que, ao longo do tempo, fossem morrendo, teriam seus lugares preservados à mesa, como se ali estivessem e seus nomes seriam proferidos pelos sobreviventes.
2) As reuniões deveriam continuar ao longo dos anos enquanto restasse alguém vivo.
Assim foi cumprido fielmente.
Após 10 anos, dois colegas tinham cometido suicídio, um morrera em acidente de trânsito e um por enfarte do miocárdio.
Os ausentes eram homenageados com as cadeiras vazias, os nomes pronunciados com respeito e saudade por todos os presentes.
Aos 20 anos, mais sete colegas haviam morrido. Aos 30 anos, as baixas foram de doze; aos 40 anos, o total de mortos chegou quase à metade da turma inicial.
As reuniões se tornaram penosas, melancólicas para os sobreviventes; havia enfartados, cancerosos, seqüelas de AVC, esclerosados e muitos deprimidos.
Aos 50 anos de formatura, restaram 16 médicos; aos 55 eram 9; aos 60, apenas 2.
Chegou a véspera da reunião anual, seria a 61ª.
Um dos sobreviventes, cardíaco há vários anos, telefonara para o colega de turma, seu médico cardiologista:
_Não estou me sentindo bem, sabe, é aquela dor no peito, já coloquei Adalat debaixo da língua e não tive alívio. Desculpa te incomodar, mas poderias me dar alguma ajuda?
Neste momento, a ligação foi cortada e, por mais que Carlos tentasse, não foi restabelecida. Sobressaltou-se, vestiu-se rapidamente, chamou um taxi e partiu para a casa de André, que distava alguns quilômetros da sua.
No caminho, sua mente funcionava de forma febril, vertiginosa, em evocações caleidoscópicas. Via a cada um de seus colegas de turma, evocava detalhes, as piadas, os apelidos, farras, vitórias e decepções.
Chegou finalmente ao seu destino e ficou paralisado: o corpo quase sem vida de André era conduzido em maca para uma ambulância. Nem saiu do carro, mandou seguir para o hospital.
Passou a noite em agonia lenta, mas inexorável. André faleceu às primeiras horas de um novo dia, o dia do jantar de formatura. Carlos Eduardo sentiu o corpo frágil, a cabeça girar, as idéias em desagregação. Nem sabe como voltou para sua casa.
Era madrugada, a mais vazia, a mais longa de sua vida.
Quis chorar, não conseguiu; dormir, nem pensar, iria até o fim.
Horas depois, no restaurante de costume, os garçons viram um homem trôpego, roupas em desalinho, mãos trêmulas empunhando um papel.
Começou a balbuciar os nomes daquela turma de médicos de 61 anos passados.
As lágrimas caíam, molhavam o papel, a voz fraquejou, a cabeça tombou, o corpo também.
Ele sentiu um alívio enorme, pois o reencontro estava tão próximo...
Final do mês de dezembro do ano 2000...
Final do século...



terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Lança partida

                                                                                     LÍRICO


A renúncia  
na vida do poeta é uma constante,
qual  flecha sem destino,
cada vez mais distante.
São mergulhos que se sucedem,
angústias que não medem
desencontros a cada instante.

Qual violino em doce movimento,
saxofone em pleno lamento,
rasgando e desnudando a melodia.
E o poeta, já em desvario,
chega ao cerne do cio
em labiríntica andança.
Caminha a solitária figura,
sabendo que o mal não tem cura,
baixa os braços, parte a lança.




                                                                                                  

Metades incongruentes

                                                                                                    
                                                                                                             
Deponho as armas,
rendo-me às impossibilidades,
mergulho na renúncia,
dissolvo vestígios do afeto,
atinjo, enfim, a imunidade.
Não mais pensar,
nem criar expectativas,
esperas inúteis,
flagelos do EU SOZINHO.
Mas não te culpo, nem poderia,
nossas metades incongruentes
em órbitas tão distantes.
Apesar de tudo,
restou a simbiose
de nossas loucuras,
em meu murmúrio,
em nossos murmúrios,
em dispnéias crescentes,
ultrapassando o Olimpo,
nos marcando a fogo.

Mundo encantado

                                              
Percorrendo o perímetro da solidão,
não mais com ela se assustou,
segurou o velho violão,
soltou a voz, exorcizou.
Junto à letra brotou a melodia,
em ré maior bem tangido,
evocou a hora, o dia,
libertou o eu sofrido.
Foi quando o galo cantou,
ao seu canto se juntou
num dueto tão afinado,
que a lua se debruçou,
uma lágrima derramou,
o mundo tornou-se encantado.
Foram chegando outras solidões,
entoando belas canções
em quadro jamais pintado.
Surgiu novo caminho,
ele deixou de ser sozinho
em sonho nunca sonhado.

Na mesma esteira

                                                                                                            


Abrigo ao leão e ao cordeiro
em convivência pacata:
chegando um deles, outro parte ligeiro
após leve aceno de pata.
Leão é generoso,
de sua força não abusa;
cordeiro é cuidadoso,
prudência jamais recusa.
Nas horas de perigo,
de decisão, chega o leão;
quando estou de bem comigo,
o cordeiro, pura mansidão.
Mas pela vez primeira
em toda a minha vida,
ambos na mesma esteira
conduzem-me a ti, querida.
Os três: eu, cordeiro e leão
juntos, um só coração
em plena levitação,
chegamos ao paraíso.
As portas foram abertas,
vão longe horas incertas,
                                                                                                                                                                   
cessaram nossos alertas.
O motivo? O por quê? Teu sorriso...



Novo dia

Sob domínios da cumplicidade
afloram afinidades:
na fala, na postura.
Entre deveres e poderes
avultam quereres,
e estes, ninguém segura.

Na saudade antes de ir embora,
na semana lenta a cada hora,
em barreiras da censura.
Não tem retorno o desejo,
prenúncio de abraço, de beijo,
de paz em meio à ternura.

É solidão que se amplia,
é antevisão de novo dia,
é alguma coisa qualquer.
Que irá quebrar a rotina,
que fará dobrar a esquina,
no encontro do homem e da mulher.