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Membro titular da UBE, ABRAMES, ANLA, ACCLARJ, SOBRAMES, LISAME, UMEAL, EÇA DE QUEIROZ, FORTE DE COPACABANA, CENTRO LITERÁRIO GIBRAN KHALIL GIBRAN

Presidente da Academia Cearense de Ciências, Letras e Artes do RJ





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Médico Psiquiatra e escritor.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Camisola

Ele dormia de camisola, mas não o julguem errado, era uma imposição da esposa, d. Elza.
Pedrinho Camisola, o apelido incorporado ao nome, se casara há mais de 30 anos com uma mulher dominadora, castradora, com a qual jamais teve diálogo.
Ela falava, decidia; ele ouvia, prestava obediência e papo encerrado.
Assim decorreram muitos anos, em meio aos 3 filhos : um homossexual passivo, um deficiente mental e o caçula, ainda indefinido, pois tinha um pouco de cada irmão.
Camisola formara-se em Odontologia, tinha boa clientela e um papo macio. Aliás, os dentistas estão em todas as bocas.
Moravam e comiam bem ; quando saiam à rua, d. Elza não abria mão de andar na beira da calçada; Camisola, encolhido, no canto.
O consultório particular era na própria residência do casal, por imposição da matrona, que a todos controlava, da atendente aos clientes.
De certa feita deu uma incerta na sala de espera e, ao notar uma mulher jovem e bonita com a saia bem curta, a ela se dirigiu com veemência:
_ Esses são trajes de vir ao consultório? Não tem compostura? Não vou deixar meu marido atendê-la, pode se retirar.
A cena causou mal estar e gerou comentários desfavoráveis, abalando a clientela de Camisola.
Mas ele não trabalhava apenas em casa; era dentista da Marinha, por concurso, servia no Hospital Marcílio Dias, onde desfrutava de bom conceito profissional. A verdade é que, quando estava fora de casa, se sentia melhor, respirava outros ares.
Durante um plantão no hospital, Camisola conheceu Carmen, jovem médica recém contratada. A jornada de trabalho é longa no decurso de um plantão, é preciso conversar, botar pra fora, fazer a catarse e, assim aconteceu.
Sabe, Carmen, talvez você estranhe meu apelido, mas sempre fui submisso à minha esposa. Em nossa noite de núpcias, Elza pediu que eu pusesse a camisola, em clima de brincadeira. Inadvertidamente eu o fiz, ela adorou, ficou muito excitada e me impôs o uso da peça feminina daí pra frente. No início me causava embaraço, depois me acostumei. Cheguei a comentar com alguns amigos; uns riram, debocharam; outros acharam humilhante, revoltante. Não obtive, na prática, nenhuma solução efetiva.
_ Que estranho, Dr. Pedro! Você não exigiu dela nada em troco?
_Cheguei a pedir que ela usasse minhas cuecas, ela concordou, mas isso não produziu nenhum prazer ou mesmo conforto.
_ Afinal, há um ditado “ cada louco com a sua mania “ _ disse a doutora.
Pedro ficou pensativo por alguns momentos e retrucou:
É, mas não sou feliz, acho que nunca fui...
A médica e o dentista se encontraram num olhar pleno de carências e, concomitantemente, se deram as maõs  sem nada mais dizer.
Agora, Camisola compreendia porque diminuía o tempo de estar em casa. A vida do lar cada vez mais lhe pesava.
Carmen saíra, recentemente, de uma ligação afetiva que lhe trouxera frustração e sofrimento.
O clima entre ambos era de franca reciprocidade, sem freios e sem censura e isso não tem preço.
Camisola mudou radicalmente; um dia se surpreendeu cantando músicas de Evaldo Gouveia e Jair Amorim, gravadas por Altemar Dutra.
A paixão o fulminara, como relâmpago em céu sereno. Passou a dissimular com d. Elza, aperfeiçoando-se, a cada dia, na comédia da vida. Aliás, Procópio Ferreira não o faria melhor. O namoro com Carmen ia de vento em popa.
Fazia das tripas coração e sempre arranjava um tempinho ( d. Elza resolvera fazer alguns cursos de culinária).
Atreveu-se Camisola a um vôo mais ousado e foi à casa de Carmen, que morava sozinha. Chegou ansioso, abraços, beijos, carícias plenas, foram juntos para o banheiro e para a banheira. O homem quase enlouqueceu com os prolegômenos!
Dali foram para a alcova.
Só que, na hora da verdade, o homem pula da cama, vai até o armário de Carmen, pega uma camisola vermelha de rendas, veste-a com capricho e diz, com a voz lânguida:
Agora, sim, estou pronto...

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